Resenha Literária- Cartas a um jovem terapeuta.

11/01/2021

O livro Cartas a um jovem terapeuta escrito pelo professor, escritor e psicanalista italiano Contardo Calligaris, publicado em 2004, destinado como diz o subtítulo: "Reflexões para psicoterapeutas, aspirantes e curiosos", um livro escrito para os jovens terapeutas por meios de trocas, entre cartas e bilhetes, Contardo escreve e responde aos aspirantes terapeutas, uma leitura dinâmica, esclarecedora do ponto de vista profissional e pessoal.

Livros como "Cartas a um jovem terapeuta" são uma janela, é olhar pela porta entreaberta, proporciona o contato com a realidade de profissões que acontecem na subjetividade, como a psicanálise. 

Procurar uma profissão desperta inúmeras dúvidas, sempre que nos aventuramos em novos caminhos principalmente na área profissional o medo do futuro e a insegurança são nossos companheiros, por vezes, os questionamentos ou a falta deles refletem no futuro como uma escolha não tão bem-sucedida, resultando em mais um diploma que ficará em uma parede pendurado ou guardado em uma gaveta.

O autor, professor na universidade de Genebra, decidiu tornar-se psicanalista em 1974, conhecedor e adepto da psicanálise, inicialmente pretendia apenas ensinar e publicar livros, com o surgimento de novas oportunidades, começou a clinicar, o livro permite viver a experiência do seu primeiro atendimento realizado em um consultório improvisado montado no apartamento onde morava.

Em suas cartas Contardo conta a sua história, compartilha suas experiências na psicanálise e na vida pessoal, aborda questões da terapia psicanalítica. A primeira carta conduz nosso pensamento ao tema de vocação profissional, por meio de questionamentos o autor nos leva a refletir sobre nós e as nossas condições pessoais para o ingresso na área de psicoterapia e/ou psicanálise.

O autor sinaliza as dificuldades que possivelmente irão surgir na área das psicoterapias, uma dessas dificuldades faz menção à etapa formadora, que será longa e o seu custo elevado, ele se compara ao pai que é médico e as discrepâncias de reconhecimento e mérito entre as profissões, intencionalmente o autor quando resgata essa lembrança, tem uma finalidade importante: mostrar que no mundo dos psicoterapeutas/psicanalistas sempre haverá questionamentos, sobre a credibilidade e efetividade da psicanálise e das psicoterapias, a mesma confiança destinada aos médicos, não será aplicada aos psicoterapeutas ou psicanalistas, o que muitas vezes acompanha essa profissão é o clima de dúvidas e descrenças, mesmo assim esse não deverá ser um motivo para desistir, se você tiver certeza da sua vocação profissional.

"Portanto, por favor, se sua personalidade pede amor e admiração ao mundo, invente uma crença, torne-se médico, mas, pelo bem das psicoterapias, desista." (Contardo Galligaris).

Um ponto muito importante desse início do livro, que deve ser ressaltado, é o importante ensinamento de que o terapeuta deve trabalhar para autonomia do paciente, nunca alimentar a dependência.

Contardo Calligaris compartilhou em seu livro algumas características que ele acredita ser essencial para a construção de um bom terapeuta; carinho espontâneo pelas pessoas, inclusive por aquelas diferentes de você, gosto pela palavra, o que me levou a acrescentar que no caso dos psicanalistas o gosto por escutar é requisito obrigatório, ser uma pessoa livre de pré-conceitos ou imposições moralistas, sobre tudo respeitar a diversidade humana.

"Você pode ter crenças e convicções. Aliás, é ótimo que as tenha, mas, se essas convicções acarretam aprovação ou desaprovação morais pré-concebidas das condutas humanas, sua chance de ser um bom psicoterapeuta é muito reduzida, para não dizer nula" (Contardo Galligaris.)

Alguns conteúdos de base em sua experiência são compartilhados por Contardo em seu livro: conhecimentos da psicologia, da psiquiatria e de fármacos, não com a finalidade de avaliar clinicamente como um psicólogo, ou medicar como um psiquiatra, mas entender para as diferenças de diagnósticos e os efeitos que são causados pelo uso de fármacos.

Reflexões importantes sobre o amor terapêutico também são falados, abordando ética, e a inviabilidade de envolvimento pessoal/amoroso na relação profissional de analista-paciente e suas implicações. Outro ponto marcante do livro é a problematização do relacionamento entre psicoterapia e a psicanálise, não se limitando apenas a ser um propagador de doutrinas e ideologias, ressaltando que o mais importante é processo de cura dos pacientes.

"Em suma, os argumentos apresentados até aqui nos encorajam a redefinir o que é a cura que pode ser esperada de uma psicoterapia e sugerem que, justamente para curar direito, o psicoterapeuta não deve se apressar. Nada, nesses argumentos, explicaria um divórcio necessário entre psicanálise e psicoterapia." "( Contardo Galligaris.)

O livro não é extenso, uma leitura leve e agradável, de maneira esclarecedora o autor conduz o leitor pelo caminho das suas experiências, escrito de uma maneira bastante compreensível, sem linguagens técnicas, o autor finaliza a obra com um conselho valioso,

"Em suma, avance desarmado". (Contardo)

Carina Camacho- Psicanalista (15) 99858-3o11

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